Sonhei que eu tinha 23 anos. Ou poderia ser hoje em dia, com a vitalidade de 20 anos atrás. Sonhei que reencontrava um dos grandes amores da minha vida. Ele cantando e tocando samba com diversas pessoas, eu bebendo uma cerveja, dançando timidamente e gostando imensamente dali, do som, das pessoas. Me divertia. Achei que ele não me reconheceria, ou se me reconhecesse, não falaria comigo, agora ele tem uma companheira e filhos, nossa diversão do passado tinha ficado pra trás. Num determinado momento do samba e alegria, ele me viu e desde então me olhava diversas vezes. Eu, tímida, abaixava os olhos, desviava, sambava com minhas amigas e amigos. Quando deu o intervalo, ou foi o fim da roda (nos sonhos tudo é tão etéreo), ele, esbanjando alegria como desde antes, falou com a rapaziada, saudou a batucada, foi pegar uma cerveja e esbarrou comigo. Quando nossos corpos se aproximaram, me arrepiei como sempre ficava, mas lembrei dos filhos dele, da minha filha, me aquietei "os tempos são outros" e na conversa de "há quanto tempo" pra lá, "que bom você aqui" pra cá, a atração dos corpos foi magnética e nos beijamos intensa e amorosamente, sem culpa, beijei com a entrega de meus 20 anos. E mais, ele me abraçou, disse coisas lindíssimas, afetuosas, que me embalaram. Eu estava com meu boné do MST - será que era festa do movimento? Eu queria mostrar pra ele que também sou militante, nesses 23 anos fiz várias besteiras, mas não me afastei da luta pelo socialismo, por um mundo mais justo. Ele disse que com boné eu ficava diferente, que não conseguia ver meu cabelo solto, que era tão cheio, que ele gostava tanto e que ajudou ele a se reconhecer também em suas origens afrodescendentes. Eu, tímida, insegura, pensava em tirar o boné para satisfazê-lo, mas não tinha cabelos como antes e não era qualquer boné. Ele saiu, disse que precisava resolver alguma coisa e já voltava, fiquei só, com tanta gente em volta. Tentei encontrar alguém ou o que fazer. Minhas amigas e amigos estavam entrando numa beira de mar com pedras logo ali em frente. Ponderei se entrava, porque ele poderia voltar e não me ver por ali. Ponderei novamente, ele poderia já ter entrado n'água. Ele poderia nem não mais voltar. Me restava saber o que eu queria genuinamente. Mirei aquelas águas cristalinas batendo nas pedras, as pessoas que entravam e saíam se divertiam tanto, eu também podia me divertir, além do que, água salgada é uma benção. Ele não voltava. Acordei. Não sei se ele voltaria ou se demoraria outras décadas. Acordada, me entregava praquela água salgada e sentia a beleza e liberdade de fazer o que se quer.
Noz Moscando
domingo, 4 de fevereiro de 2024
segunda-feira, 27 de março de 2023
Aroeira
terça-feira, 31 de maio de 2022
SUS é plano de saúde público?
Nesta semana, a ANS (Agência Nacional de Saúde) aprovou aumento de 15,5% nas mensalidades dos convênios de saúde. É o maior reajuste em 22 anos, o outro com maior índice foi em 2016. (https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2022/05/26/reajuste-planos-de-saude.htm)
Paralelamente, também em 2016 foi aprovado o PL 241, que congela os gastos em saúde por 20 anos. (https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/10/politica/1476125574_221053.html) Vemos a saúde pública sendo desmantelada pelos governos federais, estaduais e municipais desde então.
Nessa condição de aumento dos convênios de saúde por um lado e desmonte da política pública de saúde por outro, ressurge uma antiga questão: SUS é plano de saúde público?
Uníssonamente dizemos: NÃO!!
O SUS é direito à saúde pública. A Constituição garante que todas as pessoas em território brasileiro têm acesso a saúde pública de qualidade em suas dimensões básica (consultas de rotina, acompanhamento da saúde da família, exames), atenção secundária (acompanhamento de especialidades) e atenção terciária ou urgências (hospitalizações, cirurgias, etc), além das vigilâncias sanitária, epidemiológica e ambiental. Portanto, se há um desmonte do direito constituído, a população, ao invés de pagar cada vez mais caro por planos de saúde que não abrangem nem metade das ações e programas do SUS, tem o direito e o dever de fazer garantir o que está na Constituição.
O SUS nunca foi dado, nunca foi finalizado, é um constante processo de construção e em formação pelos conselhos municipais de saúde, pelas conferências municipais, estaduais e nacional em saúde, que nós usuária/os e trabalhadora/es do SUS devemos ocupar para fazer garantir nossos direitos!
Se seu postinho de saúde não funciona, o local, equipamentos e servidores precisam ser revistos, não porque você tem um plano de saúde público - e que muita/os servidora/es entendem que se é público precisa ser ruim, mal feito, meia boca - e sim porque vc tem direito à sua saúde pública!
Ou seja, o aumento que a ANS, agência pública reguladora da saúde deste desgoverno federal aprovou, nos provoca a efetivarmos nossa responsabilidade social em defesa do SUS.
E você, já SUS hoje?
Fontes das imagens:
1 - https://pt.org.br/o-brasil-precisa-do-sus-sociedade-civil-defende-orcamento-para-a-saude/amp/
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022
Tentei
No insta entrei
Atrás de você
Tindei
Procurava sua foto, seu sorriso.
Nem achei.
Seus olhos que falam
Ceguei
Nada se assemelha àquilo que quero
Cansei
Num tempo que nem sei se houve mesmo.
Suas mãos em mim me acariciavam
Nossos respiros eram puro calor
Tua boca na minha pele, minha pele na tua perna, tua língua em meu mamilo, minha mão nos teus pelos.
Arrepios...
Alegria, falação, muita risada, a gente se divertia, a gente se queria
Naquele tempo
Sei lá se existia
Hoje nessa tela fria
Procuro teus olhos
Quem sabe, me buscam também
Em encontros perdidos na rede
Bicando de like em like
Só eu sei o que quero
Trombar o seu perfil
Marcar um rolê
E trocando ideia, entender
Que você é minha fusão.
Ilusão, paixão.
sábado, 18 de janeiro de 2020
Vias
Um artista de rua
Fazendo malabares com seu chapéu
Para disfarçar seu nervosismo
Com duas viaturas da polícia
Que passavam lentamente
E o encaravam veementemente.
Numa rua de uma cidade do mesmo país
Em que um miliciano é presidente.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2019
Terra, água, fogo e ar!
A seguir era encontrar com ele, e eu estava apaixonada pelo dia, por mim, mas confundia a paixão por ele. Quando a gente é jovem, confunde que a paixão, deve ser direcionada pra fora, pra uma pessoa com quem se queira uma relação. Eu relevava palavras duras, relevava determinadas atitudes agressivas, acho que para não desmanchar todo o resto que eu sentia envolto pela paixão do dia. Duas vezes por semana, ele chegava já tarde da noite, eu aproveitava pra assistir algo legal na TV, prolongando minha diversão; quando ele chegava, eu me iludia que estava morrendo de saudades, mas na verdade, eu estava muito bem ali sozinha.
Foi pela paixão, misturada à ilusão e confusão que me decidi: é por aqui que eu fico! Tenho certeza que tomei a decisão por causa das liberdades e paixões comigo e com a vida, mas embolei e coloquei ele no meio da decisão. Fui, arrumei minhas coisas na velha, enorme e inóspita São Paulo, me desentendi com ele, mas mesmo assim mantive o foco de que era pra lá que eu ia - pra lá pro meio da mata, onde o mar bate de mansinho na areia. Mudei pra casa de um amigo, mantive a grande paixão comigo (quase que o retorno pra capital me apaga ela, mas reviveu), dessa vez eu andava de bibcleta mirando a orla, visitei praias que eu não conhecia, vi lindos entardeceres da varanda, vi saíras e capivaras. Já no trabalho, fazia um percurso delicioso de bicicleta, com vista para as montanhas, o rio chegando no mar, brilho do sol citilante nas águas. Até quando chovia era uma delícia morna. Nada daquilo se assemelhava ao trânsito brutal em SP, meus choros no ônibus parado na cidade, sem previsão de andar e eu atrasada pra chegar. Rio? Só aquele poluído, fedido, que exalava tristeza. Na nova vida, até mesmo meu trabalho me transbordava, até que enfim estatutária em um caps, onde planejei trabalhar desde o fim da faculdade.
Eu era jovem e iludida, eu achava que o que me preencheria de verdade era o amor "verdadeiro", e ele veio pedir desculpas, nos reconciliamos e iniciamos namoro, coisa séria. Por ser sério, eu ouvia um tanto de coisa e não podia um outro tanto, era inaceitável, ainda mais com toda a liberdade que eu estava experimentando, mas para não ruir o que eu entendia por felicidade, logo após discordar, eu acatava. E fui me definhando. A própria cidade foi se mostrando horrível, uma violência urbana enorme, pessoas morrem toda semana, quiçá até todo dia. o trabalho já nao tinha mais brilho, entre tantas coisas, uma chefe impertinente, a luz do sol na água perdia brio.
Durante a gestação, meu amor foi re-direcionado pra aquela que escolheu crescer no meu ventre, e que felicidade isso era! Parto, pós-parto, exoneração, violência doméstica aumentando (nunca houve violência física, mas como doíam as violências psicológicas e verbais!). Fim do casamento
Sem trabalho, com uma filha pra criar de maneira amorosa, com apego sem delegar funções, me perco mais uma vez em ilusões... Mas hoje eu senti de novo aquela faísca de paixão. Foi na rotina da manhã, trocando a água das galinhas, respirei aquele ar puro rodeado por árvores na beira do rio, terra molhada de chuva, brisa de mar amanhecido. Era eu comigo mesma, não vou me iludir dessa vez, sou mulher madura!
domingo, 13 de janeiro de 2019
Fantasias reais
Já de noite, enquanto eu fazia a janta, ela disse que teríamos um baile para irmos mais tarde, mas antes do baile ela iria pra escola. Eu perguntei o que princesas fazem na escola (uma vez que ela, princesa ou não, não vai à escola), ela disse que as princesas crianças vão para aprender a ler e a fazer outras coisas e que todas as amigas vão, ela precisava encontrá-las. Se fechou no quarto e dali a pouco retornou dizendo que aprendeu os 5 elementos: água, fogo, terra, ar e gelo (Avatar com uma pitada de Frozen), que a professora foi ensinar a lançar raios e acertou no pé dela, que um princípe bateu nela e depois a pediu em casamento "que horror! Sou criança, não devo me casar". Em suas brincadeiras já está bem claro que escola é mesmo lugar pra ficar longe, afinal quem ensina machuca e os "colegas" de sala agridem e são impertinentes. E aprender... se faz no mundo! Depois ela disse que precisava se arrumar para ir ao baile e foi pegar sua vassoura, bem que eu sabia que tinha uma pitada de bruxa também.
Outro dia ela me perguntou porque o pai dela não a deixa usar batom e eu disse que alguns homens acham que devem proibir as mulheres a fazerem o que querem. Ela me falou que irá fazer uma mágica com ele e que ele vai começar a deixar ela fazer o que quiser. Vai que a fantasia vira real, bruxa ela já é.
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018
Ubatubano o novo StartUp
*nome em manutenção
Além disso, às vezes é preciso cruzar a cidade para saber onde encontrar o mesmo produto num valor mais acessível.
Tudo isso pode ser resolvido por um aplicativo ou programa que cadastra os moradores que consomem o ano todo na cidade, além de mapear os melhores preços para este morador/consumidor.
terça-feira, 11 de outubro de 2016
O Haiti é aqui
domingo, 25 de setembro de 2016
Matrioska
Por cima dessa história, noutro tempo, Alice era uma pequenina menina esperta que vivia saracoteando por aí, corria, subia em árvore, comia fruta do pé, cantava, dançava. Até que chegava a hora do almoço, sua mãe Maria chamava e Alice chorava, sua mãe ralhava. Naquele tempo Alice até levava surra de vara! Diz que era pra obedecer melhor....
Por cima dessa, noutro tempo ainda, Maria era uma menina pequenina e ágil, bem esperta mesmo, vivia saracoteando, gostava de ir até o rio que passava logo abaixo da casa da sua mãe Antônia, no rio nadava, catava pedra, fazia barco de folha seca, pegava até uns peixes. No sol a pino Antônia chamava pro almoço! Maria não ia, gostava muito da água, a mãe já tinha falado que não queria descer até o rio, quando vinha, vinha brava mesmo, pegava Maria pelo braço, puxava ela no ar assim pra cima e batia sem dó nem piedade, sem se importar que estava ficando roxo, que estava rachando a pele, que a menina gritava, urrava de dor. Antônia já tinha falado que não queria descer no rio nessa hora do almoço, tinha entendido bem? Tinha outras coisas pra fazer, estava certo? Maria não tinha juízo, não tinha cabimento, Maria e seus 6 anos mal feitos.
Antônia perdeu a mãe cedo e foi criada pelo pai e pelas tias. Cresceu assim, sempre apanhando quando queria continuar com seus afazeres de criança, suas brincadeiras deliciosas, seu estado pleno de ser. Ela aprendeu desde logo que a criança não pode muito fazer o que quer e consequentemente a vida é pra ser dura e não pra ser vivida, afinal acaba em morte mesmo. Maria cresceu apanhando muito! E também surrava muito Alice, que quando ouvia o choro de Lana que queria continuar brincando, tremia inteira por dentro, algo animalesco a fazia querer ir pra cima da menina, sua pequena filha de 3 anos recém-feitos, cenas grotescas de espancamento inundavam sua cabeça, e ao mesmo tempo uma encantadora e familiar sensação a povoava. Alice bamboleava entre a agressão e a amorosidade e por algum motivo incompreensível maneiras ríspidas se sobrepunham, Alice pegava a filha com força, falava de maneira seca, tom alto, "Lana, AGORA é hora de comer!", mas pra menina o agora era a hora de ser em estado pleno e continuar brincando, criando. Alice enxergava isso naquele brilho do olhar, mas não compreendia, "o que seria isso? Onde estou eu AGORA?" E foi numa epifania, nesse abrir de cascas pelos tempos, que ela lembrou-se de seus 3, 4, 5, 6 e tantos anos de infância brincante AGORA, compreendeu a infância da sua mãe, avó, tias e por aí vai, chorou, se apiedou, perdoou e deixou aquela saborosa comida esfriando no prato, enquanto corria e subia numa árvore de pitangas com toda sua criancice e de sua pequena e mestra filha.