domingo, 31 de maio de 2015

Quem sou essa?

Mas afinal, quem sou essa?
Me pego pensando muito nessa pergunta, desde que me entendo por gente. Ultimamente a maternidade me tirou o chão, então parto daí. Sim, o parto foi um portal. Me preparei durante a gestação para um parto normal. Os pródromos começaram e depois de um tempo veio o trabalho de parto em si, mantive sempre o foco no parto normal, minha bebê ia sair pela minha vagina, sim! Apesar do terror violento de uma equipe plantonista, episio, kristeller, palavras de ordem... Lia nasceu vaginalmente e eu também! Que mistério foi aquele, gente! Que magia, que delícia!! Lembro perfeitamente de eu andar pelos corredores da maternidade e olhar as outras mães com uma sensação de cumplicidade, os olhares diziam "você viu! Então é isso, era isso o tempo todo, que alegria!!", isso que não dá pra nomear, que não dá pra pegar nem dar contorno. Isso é parir e ser mãe. O parto foi o início de novas velhas mudanças...
Durante a gestação, o parto e o puerpério, o corpo da mulher sofre inúmeras transformações, não só físicas, mas também emocionais e hormonais. Eu posso dizer do fundo da minha pele que sofri todas essas alterações desde o 1º instante de gestante até o último segundo de puerpério (que diga-se de passagem, ainda não acabou, e temo dizer que não se acabará). Se quem sou essa sempre me martelou, nessa fase em que estou é um bate-estaca, bate-estaca, bate. Eis que agora, sozinha só com minha bebéia (tão grande, ela está uma bebê adolescente) percebo que minhas mudanças são todas muito parecidas com a adolescência, justamente. Somos 2 adolescentes sem adolescer na mesma casa!
Ahhh, a adolescência... Tão longe e tão perto... Minha adolescência foi um caos!! Perdidíssima, arrisco a dizer que com pais perdidos também.... Carinhosos, zelosos, super cuidadores, com certeza, mas sem jogo de cintura com 3 adolescentes na mesma casa.... E me arrisquei em aventuras (des)amorosas, em ruas escuras, em boemias, saí da minha cidade natal recheada de amigos, caí numa cidade árida (em todos sentidos), tive muitas e terríveis espinhas (acnes), meu corpo mudava vertiginosamente, minha cabeça voava. Hoje, passados tantos e tantos anos, digo que sofri a busca de ser eu, nunca conseguindo alcançar. Sempre senti necessidade de me adaptar a algo ou alguém, sempre tive necessidade de agradar não sei quem. Que não a mim. A mim sempre fui extremamente desagradável. E tudo indica que às pessoas que amo também. Seguuuura!
Muita água rolou por debaixo da ponte, voltei pra minha cidade natal, fiz faculdade (piscoque?), trabalhei, estudei mais, namorei bastante, bebi outros tantos, me dopei e entorpeci. Nossa, eu fumava horrores, era um segundinho passando à toa e eu acendia um cigarro... Aí fui resolvendo ir atrás do que eu queria mesmo e lancei vôo pra morar no litoral (especificamente em Picinguaba). Fui trabalhar como funcionária pública em Paraty (uau, que sonho!), comecei a namorar um caiçara de Picinguaba (uau, que sonho 2!), o que tocava violão, que era divertido, lindo e ainda gostava de mim (mas tudo isso não era bem assim, na verdade...) e engravidei! Bom, aí eu vivia meu grande sonho MESMO, o sonho que eu tinha desde menina, desde adolescente.... E todas as alterações começaram a acontecer... alterações de sentimentos... hora muito feliz, hora muito triste, chorando rios.... Meu corpo se avolumando.... Encontrei a yoga que me ajudou demais a abrir espaço pro meu corpo abrir espaço pra minha filha, me ajudou a emanar luz neste processo. Acredito muito que a yoga me ajudou a perceber o parto como portal. Infelizmente eu não tive yoga no puerpério e atribuo meu grande momento de treva a isso. É neste momento que estou com meu corpo reconfigurado, que não é nem o de antes da gestação e nem o grandão de gestante (claro, faz tempo), muitas e terríveis espinhas (elas de novo), uma tpm de jorrar hormônios pra tudo quanto é lado e cuidando de uma bebê que aprendeu que tudo pode ser do seu jeito, senão.... uhh, senão chora, esperneia, grita, fica vermeia.... Revejo, então, que nunca as coisas são do jeito que a gente gostaria. Nem do meu jeito agora, nem do meu jeito de adolescente, nem do jeito que q Lia quer. E se eu estou revisitando a adolescência, com direito a espinhas (muitas e terríveis) na cara, é porque há algo a resgatar de lá.
Quem sou essa? Essa que nunca encontrou seu jeito único de ser, pensando ser sempre necessário responder às expectativas de terceiros. Essa que queria encurtar o nariz, alisar os cabelos, crescer as pernas. Essa que queria saber falar melhor, ser mais famosa sem saber fazer nada efetivamente. Essa que cala quem realmente é porque tem vergonha de si. Sem encurtar o nariz, encurto a respiração, já parou pra pensar quão estressante é viver com a respiração encurtada? A yoga me ajudou a alongar o nariz: inspira, expira. Respira em 3 fases: inspira peito, diafragma, abdome; expira abdome, diafragma, peito. Olhos fechados, olhando o mar de dentro de si!

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