quarta-feira, 22 de abril de 2015

Ninar nenê

Era uma vez a história de ninar nenê. Você conhece aquela música popular de ninar: "nana, nenê, que a cuca vem pegar, papai foi na roça, mamãe volta já"? Ela tem uma linda melodia de embalar, mas uma letra terrível. Quando eu comecei a cantar pra Lia, ela já estava com mais de 1 ano e meio, então ela já compreendia o que falávamos e ela sempre chorava. Sempre! Sim, porque por essa letra a criança está ameaçada e sozinha: a cuca vem pegar, seus pais não estão. Como que a criança dorme, gente!?
Foi então que, preocupada com o choro súbito causado pela letra, meo veio o esclarecimento antepassado disso tudo, como um túnel do tempo de esclarecimento. Ninando ela só cantarolando a melodia eu percebi que muito antigamente, nesse Brasil de séculos atrás, Brasil dos índios, invadido por portugueses e ocupado por africanos escravizados (sim, depois vieram outros povos, mas a base foi essa), as crianças eram embaladas em sua maioria por mulheres africanas, já que as européias eram damas com papel social etéreo demais para ninar e amamentar e as indígenas eram cada vez menos escravizadas (a escravidão africana era um grande negócio na época). Essas amas africanas trouxeram muitas músicas de ninar da África e talvez a mais cantada era essa de nana nenê, ótima melodia embaladora de bebês, com uma linda letra reconfortante "nana, nenê, que a cuca não vem mais, mamãe tá aqui pra fazer você dormir". Mas aos poucos, as amas percebiam que as crianças nunca estavam com suas mães e não se sentiam bem de se auto denominarem mães de que não eram de fato, seria uma falsidade ideológica. Aos poucos a letra de ninar foi mudando, virando o que hoje conhecemos, uma música de terror para crianças. Foi como um telefone sem fio. As amas cantavam essa nova música com muita tristeza no coração.
Foi assim que eu descobri a verdadeira história do nana nenê e hoje com a letra correta, embalo a Lia com muito amor. E o mais importante, ela adora! E dorme rapidinho. Às vezes ela pega o ursinho dela embalando ele nos braços e chama: "mamãe, nananana".
Em tempo, a cuca é uma criatura do imaginário de alguns povoados africanos antigos e que foi importada para o folclore brasileiro. É uma criatura que se assemelha a um dinossauro, solta fogos pelas ventas e gosta de comer criancinhas.

Nenhum comentário: