quinta-feira, 2 de abril de 2015

Vida pós-parto

Reativando o blog essa semana, encontrei esse rascunho numa gaveta virtual. Exatamente 1 ano após a última postagem aqui, dia 27/07/2014, por algum motivo fiquei acanhada de publicá-lo na época. Agora solto para que voe, vai textinho.

Vida pós-parto quase 1 ano depois.
Minha vida depois do parto tem várias etapas. Logo depois do parto entrei numa espécie de névoa que durou 40 dias. Chamei o resguardo de névoa e foi esse embaçamento das vistas e dos sentidos que me guiou preu começar a vida de mãe e me readaptar à vida de esposa. Não cabiam outros papéis naqueles 40 dias.
Depois eu fui me readaptando aos outros papéis antigos, filha, irmã, nora, etc. Amiga de não-mães, amiga de mães, dona-de-casa... Ao longo dos meses só não consegui me readaptar, nem aos poucos, ao papel de voltar a trabalhar tão rápido. Voltar a trabalhar quando minha bebê tinha 7 meses (porque eu consegui emendar a licença-maternidade com as férias) não fazia sentido, não pra forma de maternidade que eu vivo e pro trabalho que eu tinha. Mantive-me em casa com minha filha e meu marido e acho que com essa decisão inciou a 3ª etapa do pós-parto.
Escolhi ficar em casa, desempregada, mas com com muito trabalho em volta, porque tomar conta de casa e da bebê que cresce a cada segundo é trabalhoso. Fui me embrenhando nessas funções e na relação marital, hoje, ainda na terceira etapa do meu pós-parto, percebo que estou distante de outras relações pessoais e funções sociais.
Nas três etapas, desenvolvi um grande medo em relação ao mundo. No início era um medo que algo muito ruim pudesse acontecer com a bebê, depois temia fortemente que algum animal perigoso, peçonhento, pudesse se aproximar da nossa casa (moro no meio da mata), atualmente acumulo os medos anteriores com o medo da aproximação de outras pessoas que venham dizer o jeito "certo" de criar minha filha. Sinto literalmente que moro numa caverna e que a loucura tem me dominado. Infelizmente meu marido é o maior depositário de toda a loucura que jorra de mim...na verdade desde a gestação. E tentando fazer uma análise torta e rápida, compreendo que toda essa sensação de loucura que emana desde a gestação até o pós-parto, que muitas vezes é interpretada unicamente como uma explosão hormonal que nós mulheres sofremos durante este momento de maternar, é também a forma que nossa mente encontra pra se encaixar nesse mundo novo que é a maternidade, que é ter um bebê que cresce a cada dia mas que é dependente de você, que é ser mãe, esposa, filha e todas os outros papéis sociais que cabem a cada uma. É preciso enlouquecer, cindir, quebrar, zerar, morrer e matar, pra deixar nascer e fluir. A cada dia que passa esse nascimento vem brotando e é muito mais demorado que o nascimento do bebê, que já está lá no berço, no colo, no chão, andando, e eu aqui procurando os cacos do que é ser mãe.
Quase 1 ano depois.
É por essas e por outras que quero me dedicar de corpo e alma e psique desse novo mundo que se desbrava à minha frente: a maternidade, a maternagem, o florescer da mãe e do bebê.
(27/07/2014)

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