sexta-feira, 27 de maio de 2016

Vida que vem passando

Hoje é um dia qualquer dos meus trinta e tantos anos. Sempre estive ambígua a este processo ora velha, ora nova de estar no mundo. Semana passada fui sobressaltada com um comentário qualquer, jogado ao vento: "você está... envelhecida!" Sim, estou envelhecendo dia a dia desde o meu nascimento. Mas confesso que faz tempo que não fico me observando no espelho. Sei que meus cabelos brancos aumentaram drasticamente. Sei que estou cansada com a vida de mãe solo. Mas não vi muito bem as rugas surgindo e permanecendo... Daí então parei, encarei-me. Frente a frente comigo vi rugas saltando do lado dos olhos, daquelas de quando a gente franze os olhos por causa do sol, sabe? Por que não comprei óculos escuros antes? Por que não me encharquei de filtro solar?Por que a vida é isso mesmo, a vida passa, o tempo, as rugas chegam e permanecem. Rugas são vida! Cabelos brancos, expressões no rosto, marcas na pele, tudo sinal de que a vida está passando e nos marcando. E vou falar uma coisa bem séria pra mim mesma, quer coisa mais marcante do que me aconteceu comigo nesses meus últimos quatro anos? Saltei vôo sozinha pro lugar que eu mais queria morar, tive uma filha que eu mais queria ter, descasei, destrabalhei e me vi andando na linha tênue, como uma equilibrista, por todas essas novas nuances, novos papéis, novas mil caras que me surgiram e que tenho aprendido a lidar dia a dia.Sim, estou envelhecida, marcada por este tempo que me acrescenta e me consome, aprendendo mil coisas, perdendo outras tantas, me deixando levar. Ahhhh, eu não tenho mais a elasticidade, o fôlego, a energia de antigamente, mas também sei cada vez melhor deixar os pesos que não quero mais levar, deixo-os pra lá, deixo-os no canto, jogo-os fora do mundo. Então me lembro de Balzac: "A fisionomia das mulheres só começa a ter significação aos trinta anos. (...) na velhice, tudo na mulher falou, as paixões se lhe incrustaram no semblante; ela foi amante, esposa, mãe; as mais violentas expressões da alegria e da dor acabaram por lhe alterar, por lhe torturar as feições, estampando-se em mil rugas, cada qual com a sua linguagem; e um rosto de mulher torna-se então sublime de horror, belo de melancolia, ou magnífico de calma (...) um rosto de mulher velha (...) pertence aos verdadeiros poetas, àqueles que têm um sentimento do belo independente de todas as convenções em que repousam tantos preconceitos referentes à arte e à beleza".

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